01 dezembro 2009

Sétimas ao Dubitável e ao Contradizente


I
Há algo neste mundo
Que não podemos ver
Não é reto nem rotundo
Nem podemos esquecer
Aparece num instante
Não vizinho nem distante
E torna a desaparecer
II
É objeto esquisito
Sem objeto ser
É querido e malquisto
Em jornal rádio e TV
Não é belo nem odioso
Inglório nem glorioso
Nem o podemos perceber
III
É sol na noite escura
É lua no alvorecer
Ele é fruta já madura
Num ramo que irá crescer
Não é reto nem iníquo
É instrumento profícuo
Sem instrumento ser
IV
Hipnologogicamente
Ordena sem o poder
Electromagneticamente
Atrai tornando a perder
É ríspido e delicado
Um rio que corre deitado
É treva ao amanhecer
V
A ruína é sua vitória
Não tem ordem ou saber
Não há pretérito na história
No futuro não há morrer
Nem fértil ou infecundo
Do horizonte é oriundo
Existindo sem viver
VI
Não é grande ou pequeno
Costura sem coser
Não é árido ou ameno
Corre o mundo sem correr
Não tem rosto nem forma
Em tudo se transforma
Sem mudar sem se mover
VII
Que é isto que me dizeis?
Algo que é um não-ser?
Se falais vos contradizeis
A dúvida é vosso escrever
Numa cruzada vos pondes:
Do arvoredo sois as frondes
Ou o silêncio do arborescer?

14-11-2002

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