Poema para não ser lido

hoje eu não cantei
hoje eu não sonhei
meu som está rouco
minhas cordas, tensas
não vibraram

mudo
eu não criei
mudei
mas num segundo
não me transformei

hoje eu não vivi
hoje eu não morri
minha vida não parou
minha morte não chegou

vida e morte
não se encontraram
mal se amaram

amar
não aprendi

num momento
de insanidade
minha vontade
- que não é minha -
emudeceu
o mundo

calou meu canto
acordou meu sonho
viveu minha vida

sujou meu papiro
secou minha pena
amarelou meu sorriso
apagou meus erros

redimindo meu ser
para voltar a cantar
viver e sonhar

quero ser!
quero vibrar!
quero escrever
este poema para não ser lido

15-07-2009 [na UBE-PE]

Pensamento II

"A música e a leitura são um ensaio; os versos, minha fuga." César dos Anjos

[poemas]

cada palavra
é um tijolo de construção

os poemas
são muros de palavras
que se firmam
no alicerce da linguagem
sendo o Poeta
seu edificador

Recife - 05 jan 2001

Contato

o que é isto
em tua mão?

uma queimadura?
dermatite?

que me dizes?

é a minha vida
escorrendo
entre os meus dedos...

Dez/2000

Epílogo

A noite
é meu fim.

O dia,
eterno recomeço...

15 nov 2002

[extraído de "Versos Pungentes II"]

Pensamento I

"Esta vida é um pequeno ponto na linha do tempo, do qual dependem, em grande parte, as eternidades futuras..."
A.J Wolff

Ensaio e Fuga

Outro verso
no inverso da vida
noutra vida
ao avesso

converso sobre a vida
e sobre o verso
poesia vivida
ao inverso

de um converso
à não-vida
subvida
subverso

in vida
desconverso
in verso
desconcertada vida

concerto de um verso
conserto em vida
na vida
no verso

13-05-1998

[Poema publicado na antologia CEM POETAS SEM LIVROS, org. por Cristiano Jerônimo]

Aprendiz de Poeta

num sonho vi um homem
que não tinha passado
andava muito sozinho
vagando por todo lado

não sabia o que fazer
com essa dor que lhe afligia
e não ter alguém por perto
isso é o que mais doía

mas um certo dia, então
uma jovem lhe apareceu
confortou-lhe toda a angústia
e amenizou o coração seu

– quem é você, disse ele
que veio curar-me a dor?
– sou aquela, respondeu
que um dia foi teu amor.

2-3-1993

Salmo

mistério cobre-me de negro
de carmesim estive manchado
por meus delitos
minh'alma tornou-se branca
por Tua virtude

15-10-1996

Alvorada

hoje sou um poeta
amanhã um pensador

que os outros pensem
que os outros falem
não me importa a mim
pois sei quem sou

e aquilo que posso ser
nisso me tornarei

RS - 22/ago/1994